sexta-feira, dezembro 28, 2007

 

O que passou, passou

Por uma convenção engendrada por nós humanos, incapazes de conviver com o imponderável, mais um ciclo que denominamos de ano está terminando e outro começando.
Pura balela, pois o tempo existente para nós é o presente. O passado já era e o futuro não existe. Somos incapazes de corrigir erros do passado, assim como delinear o futuro. Albert Einstein, aquele cientista judeu que você conhece de uma foto famosa com a língua para fora, foi o único capaz de teorizar sobre a física clássica, convertida a conceitos fundamentais como espaço e tempo.
Concordamos então que o tempo não existe. O que há é um presente pequeno e infinito, onde a vida ocorre. Donde se conclui que devemos concentrar toda a nossa força espiritual apenas nesse presente.
Mas, apesar de tudo, o ano de 2007 está findando e o 2008 vem chegando.
Nesta época fazemos todos nós um balanço dos acontecimentos, com perdas e ganhos.
Fui agraciado por Deus e pela coloproctologista Dra. Andréa Tavares de Oliveira, com sobrevida, escapando de um iminente septicemia. Graças!!!
Consegui me concentrar no ofício de escritor, principalmente nos jornais on-line da internet.
A família, que afinal é o que importa nesta confusão do mundo moderno vai bem, muito bem, com a chegada da Laura.
Até mesmo amigos de décadas atrás ressurgiram das cinzas, como foi o caso do arquiteto e ambientalista Maurício Andrés Ribeiro.
Ele mesmo faz uma observação sobre os caminhos de nossa turma de 68, em Beagá, que se encontram num momento e depois cada um segue adiante, com um destino diferente.
Não consegui implementar o curso de inclusão digital, mas agora estou mais preparado para que tal ocorra.
Tenho conversado muito, numa amizade que se estreitou, com meu amigo Sylvio Fontes, que exerceu várias funções públicas, de vereador a Vice-prefeito no primeiro mandato da Prefeita Jussara Menicucci.
De uma probidade a toda prova. leal até os fios do cabelo, partidário, Sylvio Fontes foi alijado da vida pública, no momento em que sua experiência teria sido mais útil.
Felizmente este foi mais um período em que me ausentei da política partidária, onde o político provinciano tem copiado o que existe de pior na Assembléia Legislativa, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
É difícil para quem correu da polícia da Ditadura nos Anos 60, ligar a televisão e verificar que em uma sessão do Senado Federal apenas estiveram presentes oito senadores, dos oitenta e dois que compõem a Casa. Argh!!!
Por isso mesmo começam a circular documentos de associações militares contra a classe política.
E com certeza, nas próximas eleições, a Bolsa Família falará mais forte do que a necessária moralização da classe política...
Com tempo ou sem tempo, um Bom Ano-novo!!!

terça-feira, dezembro 25, 2007

 

Seu destino

Waleska, uma lourinha magra, cabelos louros ondulados e queimados pelo sol, morava na periferia de Bagé, no Rio Grande do Sul.
Certo dia, quando andava pelo Parque de Exposições Visconde de Ribeiro Magalhães, vendendo maças do amor que sua mãe fazia, foi abordada por um homem muito bem vestido, meio calvo.
- Você é muito linda! – ele lhe disse.
Depois perguntou-lhe se não gostaria de abraçar a carreira de modelo e ser mais uma das deusas nórdicas brasileiras.
Ele morava em São Paulo e viajava procurando novos talentos das passarelas para agências especializadas.
Diante da timidez da mocinha propôs ir até sua casa e conversar com seus pais.
Sentada numa cerca de madeira ripada, vestida com uma surrada calça jeans, blusinha estampada que sua mãe fizera numa velha máquina de costura que fora de sua avó Malvina, seus olhos azuis brilharam.
“Será que este chimango não está querendo fazer bobagens comigo? "- pensou.
Mas Théo, - era assim que se chamava o homem - era insistente e convincente.
- Você vai deixar essa sua vidinha e ser famosa. Ganhar muita grana, muita mesmo, viver no luxo.
Waleska, que vivia perambulando pela cidade, fugindo do trabalho doméstico, ouvia sua arenga.
“ Que custava tentar? Talvez fosse um golpe do destino?” – pensava.
Desceu para a pista gramada e abraçou um carneirinho que passava.
“Viajar pelo mundo todo e ser uma celebridade” – dizia Théo, aproximando-se dela, com um perfume inebriante.
A menina acabou cedendo e foram num carro de aluguel conversar com sua mãe.
Waleska tinha muita vergonha da tapera onde morava, construída com tábuas de pinho reaproveitadas, sem luz elétrica, água encanada e esgoto e plantada no meio da poeira vermelha.
Sua mãe ouviu a conversa de Théo, enquanto meditava sobre a miséria em que viviam com os cinco filhos, quatro mulheres e um homem.
Seu marido era um chacareiro honesto e trabalhador até o dia em que foi vitimado por uma faísca elétrica, num daqueles temporais que vez por outra desabavam sobre a cidade, parecendo que os céus queriam lavar os pecados das gentes.
Ele ficava horas trancado num quartinho, depois saia sem destino pelas estradas e era conhecido como o vagabundo que tinha filhas lindas.
Em pouco tempo estava convencida que era uma boa chance para Waleska, que nem mesmo roupa íntima possuía.
Daquele dia em diante sua filha passou a ter o nome artístico de Ingrid e viajou com o desconhecido para São Paulo, onde foi morar numa república de aspirantes a modelos, no bairro de Moema.
Ele lhe comprou roupas novas, todas de marca e a levou para fazer o curso de modelos que incluía prática em desfiles, como posar para fotografias de moda e um aprendizado básico de etiqueta.
Ingrid aproveitava seu tempo livro para bater perna, conhecer a cidade e dormir.
Nesta época media 1, 80 m e pesava 53 quilos e era considerada uma promessa a ser realizada.
Na porta de seu armário pregou uma foto de sua musa, a esquelética Kathe Moss.
A modelo Ingrid apareceu em muitos editoriais, capas de revistas, fez vários desfiles para vários figurinistas e tornou-se conhecida nacionalmente.
Era o mundo da moda, fashion, a seus pés...
Com o passar dos anos abandonou o apartamento em que morava com outras meninas e foi morar sozinha na Rua Bela Cintra.
Era muito namoradeira, adorava principalmente rapazes endinheirados, que a cobriam de luxos e aumentavam sua auto-estima.
Viajava constantemente para o exterior e passou temporadas na Itália, Japão e China.
Moça de família, apesar de tudo, não se esquecia nunca de enviar uma mesada para a família.
Vivia a volta com regimes e dietas e quando completou 18 anos começaram seus problemas.
Num final de semana viu-se envolvida num crime, com a morte de uma modelo, ocorrido em um motel na Barra da Tijuca, no Rio do Janeiro, no qual foram indiciados modelos, travestis, atores e políticos, com suspeita de tráfico de drogas e incentivo a prostituição.
Segundo Théo tudo acabara em pizza por envolver gente muito importante, mas ela precisava ter mais juízo na cachola.
Meses depois deixou-o exasperado quando deixou de menstruar três meses consecutivos.
Para felicidade de Théo não era gravidez, o que a obrigaria, pela sua carreira a fazer um aborto.Mas foi quando começou a apresentar problemas de saúde com perda rápida de peso, medo intenso de engordar, obsessão por dietas e contagem de calorias de tudo que comia, achando-se gorda mesmo estando abaixo do peso, vivendo num entre e sai de academias de ginástica e se isolando antes, durante e após as refeições.
As últimas pessoas que mantiveram contato com ela neste curto espaço de tempo disseram que seus belos olhos azuis estavam marcados por olheiras escuras, o cabelo louro ralo e os ossos do corpo pareciam querer furar os tecidos que os cobriam.
Ingrid morreu numa cinzenta manhã paulistana com falência múltipla dos órgãos, vitimada pela anorexia.
Théo pagou o funeral de Waleska em Bagé, comprou a maior corbeille que encontrou e acompanhou o enterro ao lado de sua mãe, de seu pai completamente bêbado, das três irmãs e do irmão.
No trajeto até o cemitério jogou seu olhar clínico para a irmã mais nova de Waleska.
Ah! Os mesmos olhos azuis e o mesmo corpo esculpido divinamente...
A todos afirmava que para Waleska aquele tinha sido seu destino...

 

Cuidado!

Qual o alpinista abriria mão de cordas dinâmicas, cadeirinhas, capacetes, sapatilhas, mosquetões, ascenders, freios ATC, friends, camelots, martelete perfurador, talhadeiras, daisies chains, estribos, nuts, pítons, chevilles, cliffs, haul bags, marretas, peckers, polias e rurps?
Planejamento criterioso da escalada, com informações o mais precisas possíveis sobre as condições de clima.
Todo este rol de providencias é necessário para a maior segurança da empreitada.
E se a expedição for ao Himalaia um bom grupo de experientes guias sherpas...
Em todas as nossas ações no dia-a-dia é necessário termos uma eficiente segurança preventiva.
O que dizer então de nossas atitudes com relação as nossas frágeis instituições?
No nosso sistema de governo, a democracia tem como uma de suas principais funções proteger direitos humanos fundamentais como a liberdade de expressão e de religião; o direito a proteção legal igualitário para todos e, a oportunidade dos cidadãos organizarem e participarem plenamente da vida política, econômica e cultural da sociedade.
Meus sensores que detectam surtos de autoritarismo têm me alertado para alguns acontecimentos potencialmente muito graves.
A começar pelas violações ao exercício da atividade jornalística que continuam preocupando entidades envolvidas na defesa da liberdade de imprensa.
“Não há sociedade livre sem uma imprensa livre e independente. A liberdade de imprensa não é um bem corporativo e, sim, o exercício do direito à informação que todo cidadão brasileiro tem, inclusive por garantia constitucional”, afirma Jaime Câmara Junior, vice-presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais) responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão.
Maurício Azedo, presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) tem lutado contra a condenação, em primeira estância, de jornalistas e pequenos jornais, com o pagamento de vultosas ações indenizatórias que visam sufocar a livre expressão. Além do uso do poder econômico e da máquina administrativa do Estado para liquidar órgãos de imprensa oposicionistas.
Listo a seguir alguns outros fatos que chamaram a atenção, principalmente do homem comum.
Um cidadão seqüestra a namorada, é preso e processado, ficando atrás das grades por apenas três meses. Em liberdade volta a reincidir no mesmo delito. Mas desta vez mata a namorada e se mata cm um tiro na cabeça.
Por que isto acontece, pergunta atônita a opinião pública, este monstro que paira acima até mesmo das leis...
Outra: o STJ ( Supremo Tribunal de Justiça ) decide que o jornalista Pimenta Neves, réu confesso do assassinato da namorada, também jornalista, Sandra Gomide, e condenado por júri popular a 19 anos de prisão, poderá ficar em liberdade até que seja julgado um recuso. Legal? Sim. Mas injusto para milhares de brasileiros, que estão atrás das grades, condenados por crimes menores, sem recursos para arcam com bons advogados. Experimente o meu amigo Zé Povinho ser flagrado num delito qualquer e o braço da Lei cairá pesadamente sobre ele...
O pior para o arcabouço que forma as instituições vem a ser a onda política favorável a um terceiro mandato para o presidente da República, o que atrai os políticos com mandatos executivos e legislativos, que preparam-se para mais uma barganha...
E esta outra notícia de que o Brasil, que já tem 51.600 vereadores, graças a uma emenda, a ser votada na Câmara dos Deputados, poderá ter mais 7.000...
Que não farão nada em benefício da comunidade, mas receberão seus proventos religiosamente...
Pasmem mais ainda com o descontrole do Estado: o Ministério da Cultura concedeu um milionário incentivo ao internacional Cirque du Soleil, em detrimento de artistas brasileiros. Amém!
Enquanto isso tudo acontece, o Senado apodrece e emperra seus mecanismos de decisão e seus personagens tornam-se personagens de uma ópera bufa...
Tais ações não tem o cheiro de Ditadura?
Fica difícil explicar ao meu amigo Zé Povinho, que enfrenta inúmeras dificuldades provenientes da desigualdade social, tanta confusão.
Durmo preocupado com a falta de reação da comunidade mais articulada a tais absurdos.
E que ao cronista do cotidiano caberia falar de flores ou conhecer as maravilhosas trilhas que minha amiga Aída Bike nos oferece.
Mas, diante desta terrível realidade, infelizmente, não é possível.

 

Inspiração

Sempre somos chamados a definir o que seja arte, e apesar das dificuldades para fazê-lo o fato é que ela está sempre presente na história humana, sendo inclusive um dos fatores que nos diferenciam dos demais seres vivos.
É composta de um conjunto de procedimentos como a aptidão, técnica e a capacidade inata ou adquirida, que vem a ser o talento.
E importante é a inspiração, que é o entusiasmo criador que anima e aumenta a criatividade de escritores, pintores, artistas, pesquisadores, etc
Por coincidência, nem bem comecei a trabalhar neste tema, recebi uma mensagem do meu amigo e pintor Eduardo Dutra, sobre os gênios da pintura Canaletto e Iman Maleki, onde está inserida uma assertiva de Pietro Ubaldi a respeito da inspiração, em que ele diz que ela é um despertar consciente na profundeza do qual está Deus.
Assim sendo, todos os gênios das artes ou do pensamento tem um ponto em comum, que é a inspiração.
Em 1991, durante a primeira campanha eleitoral de Jussara Menicucci para prefeita de Lavras, travei conhecimento com Rogério Figueiredo, proprietário da Raff Exibidora, que iniciava na cidade de Lavras a divulgação de outdoors.
Era um tempo em que com muita garra, criatividade e um marketing simpleszinho obtiamos excelentes resultados.
Tornamo-nos muito amigos e em 2001 ele criou a excelente capa do meu romance “Sonhos da Noite”.
Mais tarde a transformou em um belo quadro a óleo que hoje encontra-se na sala da residência do Prof. Silas Costa Pereira.
Rogério Figueiredo está agora, com a exposição “Encantos de Minas”, no Lavrashopping, lojas 09 e 10, de 05 a 20 de dezembro. Depois segue para Varginha, Araxá e outras cidades.
Sobre o artista Rogério Figueiredo e sua obra escrevi:
“Nem bem o homem primitivo colocou-se de pé e transformou-se em ´homo sapiens´ sentiu a extrema necessidade de expressar seus sentimentos e emoções.
Da escuridão das grandes cavernas pré-históricas vislumbra o que acontecia no seu habitat. Foi então que utilizando-se de instrumentos primitivos começou a representar o que via no que chamamos hoje de pintura rupestre: animais que o cercavam, as estrelas que brilhavam no céu, o Sol, a Lua, toda a exuberante Natureza que o cercava. Um pouco mais de evolução e o seu próprio cotidiano, de uma forma que mesmo os especialistas não conseguem desvendar, que é o verdadeiro nascedouro da pintura.
Rogério Figueiredo é um artista sensível e criativo que sabe, de uma forma toda especial colocar em suas obras estes impulsos ancestrais. Porque para ele a arte de pintar vem desta necessidade que brota dos seus poros de transformar imagens em idéias e estas numa forma de expressão cristalina.
Realismo, expressionismo, não importa o nome que damos ao que o artista nos apresenta. Qualquer que seja o suporte que tenha trabalhado, desenhado com nanquim, com guache, mergulhando na aquarela, com seus pastéis ou na tradicional tinta a óleo ou mesmo recriando imagens graças aos incríveis recursos gráficos hoje existentes, sempre nos leva a meditar sobre a essência das coisas.
Para Rogério Figueiredo pintar não é uma arte solitária, cheia de idiossincrasia, mas sim um movimento de elevação do espírito por menos relevantes que sejam os momentos representados.”
A mente criadora e a inspiração de Rogério Figueiredo fazem dele um ser humano desassossegado, que num momento se preocupa com uma bela paisagem no Rio Capivari e em outro com milhares de carrinhos em epóxi que fazem parte de um jogo de tabuleiro que idealizou...

 

Viva

Muitas vezes nos perguntamos se a nossa civilização tem melhorado nestes milhões de anos.
Certamente que sim. Partimos de uma barbárie total para um grande progresso tecnológico, social e moral.
Apesar dos problemas que vivemos ainda não podemos nos esquecer que poucos séculos atrás homens se encontravam numa estrada deserta e um deles resolvia matar o outro, roubar seus pertences e a montaria. O corpo sem vida era atirado numa vala e nunca mais se ouvia falar nele, não havendo a mínima possibilidade de seu assassino ser julgado.
Cotidianamente vivemos grandes problemas decorrentes da desigualdade social que diferencia países ricos e pobres, e homens ricos e pobres.
Outro problema que atinge a nossa vida é a estandardização dos usos e costumes, até mesmo dos comportamentos.
Pobre da mulher brasileira, geneticamente cheia de curvas, que recebe através da mídia avassaladora informações que a mulher ideal dos nossos tempos baseia-se nas modelos internacionais famélicas e nas celebridades que povoam os boletins televisivos...
Mesma coisa acontece com a indumentária, com as mocinhas se enfiando em calças de cintura baixa que irão deformar-lhes o corpo para sempre.
E o que não dizer do adolescente que não domina a informática e que é um humilde monoglota?
Não vencer as barreiras e formar-se num curso superior, mestrado, doutorado, é desastroso e pode liquidar uma existência.
Tais tipos de comportamento estereotipados atingem agora os idosos. Como seres vivos, biologicamente estamos destinados a um ciclo que se inicia na fecundação, passa pela maturidade e termina com o envelhecimento e morte.
Gostaria muito de viver como uma árvore que atinge tranquilamente três mil anos de existência. E você, leitor?
Toda vez que toco neste assunto lembro-me de três idosos com quem mantive muito contato.
Minha avó Nair, que viajava para a casa dos filhos e estando em Lavras, após o almoço atendia sua vaidade e passava um discreto rouge, munia-se de uma sombrinha e enfrentava morros e mais morros,num roteiro de visitas sem fim.
A outra, minha mãe Maria, que com o marido acamado, só lamentava a impossibilidade de passar uma temporada nas praias de Guarapari ou Rio de Janeiro.
Meu amigo, Paulo Hermínio da Costa, primeiro engenheiro de Furnas Centrais Elétricas S/A, que depois de aposentado dedicou-se a defesa dos companheiros de trabalho e as artes gráficas.
A morte levou estes octogenários de surpresa, sem grandes sofrimentos e o que é mais importante, lúcidos e felizes.
Um programa que foi criado para impedir que idosos sofressem o preconceito e a segregação social acabou virando o modismo da terceira idade e até mesmo do eufemismo da melhor idade...
Assisti um excelente filme de produção argentina, que trata muito bem deste assunto da velhice que todos nós enfrentaremos, queiramos ou não.
Em Elsa e Fred, dirigido por Marcos Carnevale, Fred (Manuel Alexandre) tem mais de 80 anos e descobre que está doente. Quando ele conhece uma nova vizinha, a saliente Elsa (China Zorrilla) - também na casa dos 80 anos -, descobre que nunca é tarde para realizar sonhos e viver novas experiências. Mesmo que fujam do cotidiano e sejam mesmo um tanto perigosas.
Esta comédia romântica é a comprovação de que o importante é que você viva. E muito.

 

Laura

Segunda-feira, 10 de dezembro de 2007.
Doxa e eu estamos no apartamento do meu filho Ricardo e da Eliane para um acontecimento muito importante.
Amanhece na Rua da Bahia vazia, sem o movimento de veículos e pessoas.
Na ponta dos pés, qual alma penada, desloco-me para a sacada e vislumbro ao longe as luzes da cidade de Belo Horizonte, particularmente feéricas neste período que dedicamos às comemorações natalinas.
Eliane, incansável desde a véspera quando chegamos, querendo mesmo ir ver a iluminação da Praça da Liberdade logo está de pé acertando os últimos detalhes.
Sem que me veja volto ao quarto tomado pela ansiedade que me faz ter vontade de roer as unhas como fazia anos atrás.
Luzes se acendem, Ricardo põe-se de pé, conversam baixinho principalmente para não acordar João Gabriel, que dorme o sono dos justos.
Ricardo e Eliane finalmente saem sem fazer alarde.
Volto para o meu posto de observação e vejo que numa das quadras de peteca do Minas Tênis Clube quatro homens jogam bravamente.
Doxa acorda e diz que devem ser executivos que logo estarão nos seus escritórios.
O celular toca, Doxa atende e Ricardo lhe comunica que nossa netinha, Laura, nasceu como previsto às seis e meia da manhã, no Hospital Mater Dei. E que ela e a mãe, passam muito bem.
Pessoas que não me conhecem me acham um sujeito desligado. Mentira! Puro fingimento!
Esta excelente notícia me faz retornar a normalidade. Vai-se a lembrança das noites mal dormidas, na espera de Laura, que chegava antes de uma gravidez levada a termo...
Laura era uma luz que acabava de chegar, dezesseis dias antes do Natal.
Depois a dificuldade de conseguir acordar João Gabriel e fazê-lo abandonar o computador, tomar café e vestir-se para irmos ver Laura, Eliane e Ricardo. Puxa! Que canseira...
Enquanto rumamos para o Hospital Mater Dei, penso na necessidade urgente de inventar brincadeiras para mocinhas, eu que tive o Rodrigo e o Ricardo, depois meu neto João Gabriel e agora tenho a Julia, filha do Rodrigo e da Mary e a Laura...
Na tevê do apartamento vemos Laura pela primeira vez, no berçário. Nasceu com quase dois quilos e quatrocentos gramos e quarenta e cinco centímetros. Um show!!!
Mais tarde vamos vê-la bem mais de pertinho, apesar dos vidros que atrapalham muito.
Tiro fotos horrorosas, cheias de reflexos, e fico admirado com a facilidade que outras pessoas têm para achar Laura parecida com o João Gabriel. Para mim recém nascidos se parecem com recém nascidos, nada mais...
Graças à conversa da Doxa, somos completamente desinfetados e autorizados a ver Laura no colo da mãe Eliane.
Já não usa respirador e vão lhe tirar a sonda nasogástrica...
Amigas de Eliane que tiveram acesso num blog a uma crônica que escrevi quando João Gabriel nasceu me perguntam quando farei o mesmo sobre Laura.
Fico pensando que a luta de João Gabriel pela sobrevivência foi uma verdadeira epopéia familiar e que o nascimento de Laura se parece com as águas calmas de um rio a correr...
De tudo o que acontece o que me causa mais admiração é a calma da Eliane e o quanto meu filho Ricardo amadureceu nestes anos todos.
Reconheço de pronto minha quase falência como pai, progenitor de meia tigela e prometo ser melhor avô desta turminha, que como diz um amigo muito simples, são sementinhas da gente levadas para o Infinito...
Alguns me perguntam o porquê do nome Laura. Intuitivamente Doxa descobre ancestrais com os nomes de Julia e Laura.
Da minha parte sempre ouvi Eliane e Ricardo dizerem que gostariam de ter uma menina que se chamaria Laura.
Pesquiso o significado do nome Laura e descubro que é coroa de louros, o que significa "vitória".
A primeira vitória Laura já conseguiu...
Boas-vindas e um Feliz Natal para Laura, João Gabriel, Eliane e Ricardo

 

Uma bela história

Adaptação de Pedro Coimbra
Era uma bela noite tropical e astros reluziam no céu, cortejando a Lua.
A mesa para a ceia de Natal estava preparada e Vovô Dudu estava sentado no sofá vendo as brincadeiras de pega-pega dos netos João e Julia.
Ao ver que haviam terminado de arranjar os pratos da Ceia de Natal desligou a televisão e disse as crianças e adultos que formassem uma roda e sentassem ao seu lado.
- Vou contar-lhes uma bela história – falou enquanto todos se acomodavam ao seu lado.
-Era uma vez... – disse Vovô Dudu - ...há muitos anos atrás, num lugar muito longe daqui, chamado Galiléia, uma pequena aldeia denominada Nazaré, situada entre dois montes. Seus habitantes viviam no trabalho dos campos e das artes da carpintaria.
Foi ali que um espírito de luz apareceu para uma jovem chamada Maria, durante seus sonhos.
- És bendita por Deus! – ele lhe disse.
Maria assustou e a visão continuou a falar, anunciando que trazia uma mensagem de salvação e que ela seria mãe de um filho, filho de Deus.
Como serva do Senhor, Maria aceitou a palavra de Deus que lhe fora anunciada.
Seu marido, o carpinteiro José, estranhou aquele acontecimento e deixou-se tomar pela incerteza, até que em sonhos também recebeu a revelação através de um espírito, que lhe disse:
- José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo.
Foi então que naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do Império Romano para recensear-se, cada um em sua própria cidade.
José e Maria partiram da Galiléia, da cidade de Nazaré, rumo a Judéia, onde ficava a cidade de Davi, chamada Belém, a fim de alistar-se.
Ouçamos Maria:
- E foi assim que, meu marido José tomou-me e levou-me para Belém na Judéia, porque somos de lá. Não havia acomodações para todas as pessoas. Era inverno, fazia muito frio e as pessoas que chegavam andavam perdidas por todos os cantos, procurando um teto onde se abrigar. José, meu marido, conversou com pastores que apascentavam seus rebanhos nos limites de Belém, perto da cidade, e conseguiu sua autorização para que eu desse a luz no estábulo. Os pastores encheram-se de compaixão e espalharam palha seca, para que eu e a criança que ia nascer tivéssemos calor.
Deus e os amigos espirituais socorreram Maria e José, lançando fachos de luar e de estrelas em suas cabeças para que os consolassem.
Naquela noite, cercados de pastores cansados de seu trabalho e de animais do campo, Maria e José sentiram seus corações acalmarem-se, pois tinham medo, pois não passavam de pessoas comuns.
Mas parecia-lhes que céu abrira-se em glórias infinitas e que sentimentos de boa vontade derramavam-se por toda a terra e pelos homens, com o nascimento de seu filho.
José tomou o recém-nascido em suas mãos calejadas e cobriu-o com uma manta de crina de cavalo trazida por um dos pastores.
Toda a animália, carneiros, vacas e outros pequenos animais foram se aproximando, como se pretendessem transmitir calor para o menino que nascia, afastando o frio intenso.
Então vieram os pastores e saudaram Maria, José e o Menino Jesus que nascera. Trouxeram também pão, leite e mel, e diziam:
- A paz seja convosco, porque nunca vimos uma noite com tanto brilho.
Logo após o nascimento do Menino Jesus vieram os magos do Oriente, guiados por uma estrela fulgente a visitá-lo.
Chamavam-se Melchior, Baltazar e Gaspar e trouxeram para presentear o Menino Jesus, ouro, incenso e mirra.
Primeiro estiveram em Jerusalém e a todos perguntavam onde estava o recém-nascido Rei dos Judeus.
E diziam ter visto sua estrela no Oriente e haviam vindo adorá-lo.
Ouvindo estes boatos e depois deles mesmos lhe dizer que uma grande estrela lhes anunciava o nascimento do Menino Jesus, alarmou-se o Rei Herodes.
O rei convocou os principais sacerdotes e escribas e indagou-os onde o Cristo iria nascer.
Todos responderam que em Belém da Judéia, porque assim disseram os profetas nas escrituras.
O rei Herodes havia chamado secretamente os Reis Magos e pedira-lhes que informassem com precisão quanto ao tempo que a estrela aparecera.
E dissera-lhes:
- Ide a Belém e informai-vos cuidadosamente a respeito do menino. E quando o encontrarem, avisai-me para que eu também vá adorá-lo.
Foi então que lhes apareceu um espírito de luz que lhes disse para não voltarem por Jerusalém, para não se encontrarem com o Rei Herodes.
E eles retornaram por outro caminho.
Logo que os Reis Magos partiram, apareceu um espírito enviado pelo Senhor a José, em sonhos, e lhe disse:
- Levanta-te, toma o menino e Maria, sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que te avise, porque o Rei Herodes há de procurar o menino para matá-lo.
Ao se levantar, José montou Maria e o Menino Jesus em um burrico, e partiu para o Egito, permanecendo lá até a morte do Rei Herodes.
O Rei Herodes vendo-se enganado pelos Reis Magos enfureceu-se e determinou que fossem mortos todos os meninos de Belém e seus arredores, que contassem menos de dois anos de idade.
Vovô Dudu terminou sua história e olhou as crianças e os adultos.
- Esta é a verdadeira história da natividade de Menino Jesus. Lições preciosas de humildade que nem um pouco se parecem com as comemorações consumistas do Natal.
Ouviu-se o toque metálico da campainha e João correu para atender a porta.
Eram pessoas andrajosas, pedindo uma ajuda: um homem, uma mulher e uma criança de colo.
João, muito emocionado, foi até a mesa da ceia e passou a colocar comida em um prato de papelão. Debaixo do olhar espantado de seus pais disse para o Vovô Dudu:
- Podem muito bem ser José, Maria e o Menino Jesus batendo a porta de nossa casa...
Fonte: Evangelho Segundo Mateus
Evangelho Segundo Lucas
Dicionário Enciclopédico da Bíblia
“O Nazareno” de Sholen Asch

 

0 piloto sumiu

Meu amigo Luciano, que sonha em ver alguns prefeitos na cadeia, com a moralização da administração pública através da edição da Lei de Responsabilidade Fiscal, pode ir tirando o cavalinho da chuva. As penas previstas para quem descumprir a legislação são iguais ou inferiores a quatro anos, o que significa que poderão ser substituídas por penas alternativas, de efeito muito mais brando que a prisão. A legislação, que modifica o Código Penal, cria um novo tipo de crime no Brasil, o crime contra as finanças públicas. A idéia de que quem cometer atos contra as finanças públicas vai para a cadeia é falsa, pois isso só ocorreria em casos de reincidência. As sanções alternativas podem ser a prestação pecuniária, espécie de multa de um a 360 salários mínimos em troca da prisão, perda de bens e valores, prestação de serviço à comunidade, entre outras. E mais: vários artigos da Lei de Responsabilidade Fiscal são anticonstitucionais, e ela no todo parece ter saído dos caldeirões dos estrategistas do FMI. Em resumo: um jogo de cena, uma ação demagógica nascida de mentes ditas neoliberais, ou mais claramente, tucanas.
Certa ocasião, um ilustre advogado me afirmou que Brasil e Canadá são países que possuem leis de uso e ocupação do solo mais perfeitas no Mundo. Acreditei nele, mas fiquei pensando nos inúmeros conflitos de terra que ocorrem por toda a Nação Brasileira. Na verdade, somos uma sociedade que conta com excelentes estatutos para sua regulamentação, diuturnamente relegados a segundo plano. Com relação ao controle dos prefeitos temos leis capazes de promover sua retirada do cargo em pouco tempo, sem falar das ações do Ministério Público e dos Tribunais de Contas.
O que falta? A ação investigativa da mídia e a presença constante da massa eleitora diante de seus representantes na Câmara de Vereadores. E rezar para que o piloto não tenha sumido...

terça-feira, fevereiro 14, 2006

 

Essa tal de cultura

Essa tal de cultura


Começo este texto com uma homenagem a Homero Faria, Alcione Lopes e Alcione Fassio, que teimam em trabalhar com cultura, na dramaturgia, em uma cidade absolutamente refratária a idéia.
Posso falar de teatro com um certo conhecimento, pois no distante ano de 1968, em Belo Horizonte, resolvi fazer as provas de admissão ao Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Com muita ousadia representei uma longa cena de A Morte de Danton, de Georg Büchner. Acabei aprovado e dois meses depois de forma intempestiva abandonei o curso, mas acabei anos depois me apresentando com um grupo amador em Desgraças de uma criança, uma comédia de costumes de Martins Pena.
Conheci o teatro numa temporada familiar de férias no Rio de Janeiro assistindo My Fair Lady, com Bibi Ferreira e Paulo Autran. Mais tarde Liberdade,Liberdade, uma verdadeira trincheira contra o golpe militar, no Teatro Opinião, Arena Conta Zumbi e outras peças. O material que comprava naqueles tetros, discos e livros, trazia para casa e mostrava para meus amigos Luciano Carvalho, Tenório, Mozar Terra e Edilce Mesquita.
Recentemente o ator Paulo Autran disparou suas baterias contra o mundo da cultura brasileira oficial, hoje dominado pelo ministro Gilberto Gil. E novas críticas surgiram do poeta Ferreira Gullar e de Caetano Veloso com relação a inexistência de uma política de fomento a cultura que vise a melhor aplicação de recursos públicos.
Na minha opinião quem definiu melhor o momento que estamos vivendo foi o escultor Frans Krajcberg, logo no início deste governo. Acostumado ao dialogo com Jack Lang, ex-ministro da Cultura da França, afirmou que o Ministro Gilberto Gil nunca cantou como está cantando...
Para pensar cultura é bom sabermos que ela é o conjunto de atitudes e modos de agir, de costumes, de instituições e valores espirituais e materiais de um grupo social, de uma sociedade, de um povo. Ouse seja, por si própria ela nada tem a ver com a educação formal, dos bancos de escola. Em tese o melhor modelo de sua aplicação no mundo é o cubano, aberto a todos e sem mercantilismo.
Enquanto isso não é possível vivemos somente do passado. Pior do que tudo isto é o saudosismo. O que adianta ficarmos a todo o tempo lembrando que tivemos um belíssimo teatro? Ou agremiações artísticas que os jovens não conheceram? A verdade é os que tempos são outros e o mundo mudou muito,,,
Está aí, nas ruas, uma tal cultura alternativa que é definida como aquilo que foge dos padrões convencionais, que está fora da mídia e que pode ser chamada também de contracultura.
Basta viajar para constatar que a maior parte das cidades médias brasileiras não possui recursos para desenvolvimento de qualquer atividade cultural.
É preciso mais uma vez conceituar este assunto.Cultura não são apenas apresentações de música clássica, óperas e afins, como muitos julgam.
É o conjunto de valores da comunidade quaisquer que sejam.
Trás em si também mais poder revolucionário, no sentido de mudanças, que inúmeros coquetéis molotov e por isso é detestada pelas classes dominantes.
Se alguém sai a caminhar por onde vive e vai coletando coisas e dados que transforma em vivências isto é uma forma de fazer cultura.
Uma galinha ao molho pardo, arroz, angu e couve é uma importante participação cultural assim como um quadro pintado a óleo dependurado na parede...
Um mau exemplo de como tratam o assunto entre nós são estes programas sofisticados e coloridos que trazem ao interior grandes escritores visando aumentar o número de leitores, esquecendo de que é necessário implementar a produção literária. Quando um destes intelectuais famosos surge por aqui constato que a grande maioria do público que os prestigia é formado por alunos de literatura, obrigados a assinar um livro de presença a troco de créditos, importantes para sua graduação.
Nos Estados Unidos trezentos novos escritores são lançados por ano, fora os que são recusados pelas editoras. E no Brasil? A maior parte dos novos escritores pena por este deserto de idéias chamado mercado cultural...
Mais uma vez se constata que os administradores públicos gastam em setores desnecessários, porém, são incapazes de criar programas específicos que beneficiem os produtores locais, sejam escritores, músicos, cineastas, grupos de teatro, bandas e etc.
Falando em Homero Faria, que apresentou no final do ano o monólogo Pessoas, de Alcione Lopes, e Alcione Fassio, que vi trabalhando com um singelo teatro de marionetes, tenho para com eles os meus maiores débitos no ano que passou pois lhes prometi peças teatrais inéditas e acabei não cumprindo esta tarefa...

 

À flor da pele

Roberto passou os dedos pelos cabelos grisalhos enquanto saia da fábrica com outras centenas de operários. Já não tinha a mesma vitalidade de antes e depois de quinze anos trabalhando como operador de máquinas gostaria de parar. Quem sabe montar seu próprio negócio ou, em último caso, mudar para outra empresa.
Tinha tido uma insônia brava nas últimas semanas, mas nada que pudesse ser atribuído ao trabalho.Nem mesmo aos turnos malucos que atrapalhavam o biorritmo dos trabalhadores.Muitos companheiros não agüentavam o rojão e logo pediam as contas ou entravam em licença médica.
Mas Roberto sabia que sua falta de sono tinha outra motivação. Seu problema estava circunscrito a sua mulher Eloísa e uma das filhas, Clara. Sua mulher nascera em Queimados, na periferia do Rio de Janeiro e era cheia de idéias suburbanas. Adorava férias na praia, exibindo-se seminua em biquínis que dizia ser a última moda. As filhas herdaram este jeito meio doidivanas da mãe. Eram cinco garotas maravilhosas. Amava todas igualmente, mas a mais velha, Clara, era especial para ele.
Seu mundo caiu quando ouviu Clara afirmar, no meio do jantar, em alto e bom som que iria colocar um piercing no umbigo e fazer uma tatuagem na linha da cintura.
-Nunca!, gritou Roberto apavorado, pensando na mutilação que sofreria sua primogênita.
-Todas minhas colegas já fizeram isto!, afirmou aos brados Clara.
Roberto olhou para Eloísa, sua mulher, procurando apoio para seu posicionamento, mas ela parecia alheia a discussão.As outras garotas terminaram a refeição e preferiram esconder-se nos quartos já que não tinham participação direta naquele problema. O homem sentiu cada vez mais lhe faltar chão. Clara falava de forma torrencial sem dar-lhe tempo de imprimir a marca de sua autoridade.
Depois de ouvi-la viu que ela se levantava e saia da sala, dizendo que faria o planejara. Roberto olhou para o rosto de Eloísa e teve vontade de dar-lhe uns tabefes.Com um ridículo copo de suco na mão que tremia, ficou pensando o que era pior, piercings ou tatuagens. Quando era adolescente ouvia dizer que a tatuagem impedia que muitas pessoas passassem pelo exame médico admissional das grandes empresas. E que tal comportamento era próprio de prisioneiros e marinheiros. Reconhecia que atualmente via mulheres tatuadas por todos os cantos, no trabalho, nas ruas. Muitas mulheres tornavam-se até mesmo mais sensuais e quando passava por elas admirava aqueles desenhos localizados nos locais mais inusitados do corpo humano.
Sua maior lembrança, no entanto era de uma mulher bem mais velha do que ele, uma morena grandalhona, que andava numa camionete velha e que ele encontrara no antigo Posto Maurício.Ela tinha dentes de ouro, seios enormes e já naquela época carregava a suspeita de ter assassinado o amante, um turco dono de uma loja de tecidos.Foram para uma pensãozinha de terceira categoria próxima da Rodoviária e quando deitaram na cama e ela tirou a calcinha viu que tinha um coração flechado, tatuado na virilha. Impressionado com aquilo teve uma péssima performance. Nunca mais quis vê-la e acabou sabendo que ela também morrera de forma misteriosa.
“E se Clara se tatuasse primeiro na cintura e acabasse chegando a regiões mais intímas?”, pensava desesperado.
Dia seguinte foi a Biblioteca Pública e resolveu ler tudo que houvesse a respeito da tal tatoo... “O fato de tatuar o corpo pode significar o desejo de traduzir alguma coisa que a pessoa não sabe expressar em palavras, um desejo oculto”, leu o pobre e sofredor Roberto.
Foi para casa e deu de cara com a mulher Eloísa e a filha Clara. Ela tinha no umbigo um pequeno piercing. Levantou sua blusa top e viu uma borboleta tatuada em sua costa e até a achou bonita.Pensava o que ia dizer quando Eloísa chegou perto e ele viu um pequeno beija-flor tatuado acima de um dos seus fartos seios.
Saiu de casa batendo a porta, dirigiu-se em disparada ao botequim da esquina, tomou talagadas da branquinha e foi em direção à rua Chagas Dória.
Ao voltar trazia tatuada no peito esquerdo uma espada sarraceno...

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

 

Quadro a quadro

A notícia é breve: o cine Estação Paissandu, do Rio de Janeiro, foi interditado por fiscais da Prefeitura. A vistoria verificou que o estabelecimento funcionava sem o alvará de licença, além de comprovar outras cinco irregularidades. Ou seja, um verdadeiro Cine Poeira...
Não sei se o endereço deste cinema, na Rua Senador Vergueiro, coincide com o que conheci e que foi o templo do Cinema Novo, território livre de Glauber Rocha e sua turma. Um dos poucos cinemas brasileiros de arte.
No Cine Paissandu, sede do Festival de Cinema JB/Mesbla,em 1968, minha vida podia ter tomado outro rumo. Meu documentário São Thomé das Letras, em 16 mm era considerado o melhor, sério candidato ao prêmio de melhor na opinião de Afonso Beato, grande fotógrafo dos filmes cinemanovistas e de Geraldo Sarno, documentarista.
Este foi um ano terrível, o ano do AI-5, em que todas as bruxas andaram soltas! Doce Amargo, de André Luiz Oliveira foi premiado em primeiro lugar, não por que fosse o melhor, mas por ser o mais panfletário.
Assistir esta lúdica invenção dos irmãos Lumiére tinha sido uma constante na minha vida, desde que minha irmã Sueli me levava ao Festival Tom & Jerry, em Governador Valadares.
Em Lavras, enfrentei o Cine Municipal, que funcionava em um antigo e glamouroso teatro que despencava sobre nossas cabeças, para assistir na matinê de domingo a série do Fu Manchu. Depois foi o Cine Aparecida, o Ipê, o Brasil e o Rio Grande e muitos filmes que a gente nem sabia que eram de arte.
Em Beagá meu ponto obrigatório era na cabine especial do Cine Brasil, onde assistíamos os filmes e fazíamos a crítica para os jornais. Antônio Luciano, um baixinho bilionário, dono de todos os cinemas de Beagá, descia do seu escritório e entrava na pequena sala depois que as luzes se apagavam, sem cumprimentar a pequena platéia...
Foram centenas, milhares de filmes que assisti, dentre eles: Casablanca; 2001-Uma odisséia no espaço; Cidadão Kane; O sétimo selo; Encouraçado Potemkin; Juventude transviada;Luzes da ribalta; A malvada; Morangos Silvestres; Acossado; Deus e o Diabo na terra do Sol;Morte em Veneza; Blow-up; Tempos Modernos; O último selo e, Fellini Oito e Meio.
Estes são os que me vem à memória agora...Hoje o cinema foi sobrepujado pelo ato solitário de encadear idéias e colocá-las no computador, numa luta intestina contra o branco intenso da tela...Mas dou minhas escapadas para assistir um ou outro filme no Centerplex do Lavrashopping, porque se um dia vierem a fechá-lo por falta de público, não quero estar no rol dos culpados.
Foi assim que vi O jardineiro Fiel, de Fernando Meirelles, com Rachel Weisz, e Ralph Fiennes. Adaptado de um romance de John le Carré. Primeiro trabalho internacional de Fernando Meirelles. Um c... de miúra, como Mário Fiorani, classificava filmes que eram difíceis de engolir. Dormi no cinema, o saco de pipocas derramado na poltrona...
O outro foi o filme de Breno Silveira, Os 2 filhos de Francisco, que conta a trajetória de Zezé Di Camargo (Márcio Kieling) e Luciano (Thiago Mendonça) a partir do sonho de seu pai, Francisco Camargo (Ângelo Antônio). Muito bem feito. Pena que no final tenhamos que conviver com o canastrismo do verdadeiro Luciano...
Para terminar um show de entretenimento: King Kong. Escrito, dirigido e produzido por Peter Jackson, com Naomi Watts, um sensacional gorilão e muitas cenas de animação computadorizada!. Três horas de pura aventura, as cenas acontecendo sem que possamos respirar. Ótimo divertimento! O primeiro filme é de 1933 e Inicialmente era para ser intitulado Kong. Acrescentaram merecidamente o King e tornou-se um sucesso absoluto. Na verdade King Kong recria a fábula da Bela e a Fera que sobrevive no inconsciente coletivo... Hoje até poderia voltar a fazer cinema quadro a quadro mas sinto engulhos com a luta insana entre os homens da cultura oficial, com o Ministro Gilberto Gil à frente, que querem transformar tudo em pura indústria da diversão e líderes do movimento do cinema novo, como Luiz Carlos Barreto e Zelito Vianna. Rixas de subdesenvolvimento..
Doces ilusões da lanterna mágica....

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

 

Pobre Zé da Silva

Nosso personagem não é necessariamente um pé rapado, ganhando salário mínimo. Na verdade pode ser um operário qualificado, advogado, economista ou engenheiro.
A vida do Zé da Silva sempre foi atribulada.
Na década de sessenta conheceu um livreto intitulado Um dia na vida do Brasilino, de Paulo Guilherme Martins.
Lá aprendeu que no Brasil existia um desenfreado imperialismo econômico, principalmente norte-americano.
Por causa desta publicação que um amigo lhe deu, o Golpe de 1964 o prendeu e o jogou em um batalhão da Polícia Militar.
Mas, o tempo passou e depois da globalização não se falou mais sobre este assunto.
Vira e mexe recebia folhetos do sindicato que diziam que o Brasil tinha uma das piores qualidades de vida do mundo, má distribuição de renda e sem falar da pobreza endêmica...
Foi então que uma sucessão de fatos estranhos caiu sobre Zé da Silva e o pobre povo brasileiro.
No começo foi a tal crise política, com denúncias pipocando de todos os lados, da qual ele não entendia muito, mas de que tanto ouvir falar na televisão passou a considerar uma grande sacanagem.
Depois veio aquele presidente da Câmara dos Deputados que de tão orelhudo parecia um extraterrestre e que resolveu levar uma gorjetinha para casa.
Assustou-se, e muito, com o tal do referendo sobre a comercialização de armas. Não queria que as pessoas andassem armadas, mas também não concordava que lhe tirassem o direito de ter uma arma...
Ficou sentado, rezando para Santa Bárbara, pedindo que ela afastasse do Brasil aquele furacão que devastou uma cidade inteira nos Estados Unidos.
Foi então que veio a pior notícia.
Um juiz do Campeonato Brasileiro preso e confessando ter roubado o resultado de pelo menos onze jogos.
Desde criança ouvia falar que todo juiz era ladrão e no campeonato de bairros em cada jogada duvidosa xingavam a mãe de sua senhoria, o arbitro, e diziam que havia levado uma nota do adversário...
Sem falar nas histórias de homens que viajavam o Brasil de ponta a ponta levando malas cheias de dinheiro para fabricar resultados...
O que fazer? O único divertimento garantido no final de semana sobre suspeita?
Muitos entenderam que isto poderia mesmo ser uma forma de tirar a atenção sobre o assunto principal, que era mesmo a tal de crise política, mas o Zé da Silva nem pensou nisso preocupado mesmo com os problemas causados ao Campeonato Brasileiro.
Na verdade continuava cada dia ganhando menos, principalmente se seu salário fosse confrontado com as suas necessidades consumistas.
E os filhos andando para lá e para cá, sem destino, sem escola e sem emprego...
Mas tudo isto era um mal menor perto dos problemas do futebol...
Quando pensou que tudo de ruim já havia acontecido ficou sabendo que o leite das crianças e a carne de em vez em quando estavam ameaçados pela febre aftosa! Ninguém lhe disse que a doença não contagiava seres humanos e que o preço destes produtos tenderia a cair...
Mal informado Zé da Silva por pouco não se atira no Rio Grande, principalmente ao saber que o seu querido Clube Atlético Mineiro estava na tábua da beirada...

sábado, janeiro 28, 2006

 

Frans Krajcberg: a saga de um artista e a natureza

Pela quarta vez consecutiva visitamos Nova Viçosa, localizada no litoral do Extremo Sul da Bahia, na região próxima da divisa com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Situada entre o rio Peruípe e Oceano Atlântico, é maravilhosa, formada por ecossistemas derivados do que sobrou da Mata Atlântica, restingas, manguezais, ilhas oceânicas e recifes de coral.
Logo na entrada da cidade o Sítio Natura e Museu Ecológico Krajcberg chamam a nossa atenção. Ali mora um “gringo” como diz o povo, que em grande parte não simpatiza com Krajcberg. Talvez pelo seu temperamento exigente, que não combina muito com o do baiano. Mas, por um golpe de sorte conseguimos abrir caminho para uma entrevista, já que são poucos seus depoimentos a imprensa. Isto nos foi proporcionado pelo farmacêutico Célio, membro da Maçonaria e amigo pessoal do escultor e ambientalista. Depois de alguma conversa, nos encontramos a primeira vez com Frans Krajcberg no Sítio Natura, onde reside, no momento em que embarcava grandes esculturas encaixotadas para seu ateliê, em Paris. Marcamos uma entrevista exclusiva para o LavrasNews no dia seguinte, sábado, aos pés do gigantesco galho de pequi, com três metros de diâmetro e doze de altura, que trouxe da Amazônia e fincou na terra baiana, onde construiu no topo, sua casa. “Quando o transportei para cá, já tinha sessenta anos tombado no chão e agora mais trinta aqui ”, afirma Krajcberg, "Adquiri esta fatia de Mata Atlântica e ergui minha casa arbórea, de onde tenho uma visão perfeita do mar e do topo das arvores”.
Frans Krajcberg nasceu em Zozienice, na Polônia, em 1921 e estava na fronteira com a Alemanha quando iniciou a Segunda Guerra Mundial. Judeu, estudou na Alemanha (Stuttgart) e a família foi dizimada num campo de concentração. Nunca mais viu seu pai, sua mãe e quatro irmãos, cremados pelos nazistas. Mudou para o Brasil em 1948, graças ao pintor Marc Chagal que lhe comprou uma passagem de terceira classe para vir ao Brasil, tendo morado em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Bahia. Tornou-se amigo de Volpi e Segall entre outros artistas. Do Rio de Janeiro viajou para São Paulo num trem, como clandestino. Trabalhou na pintura de azulejos, em Monte Alegre, na Kablin, principalmente aqueles utilizados da Igreja de São Francisco, na Pampulha, em Belo Horizonte, nos painéis de Portinari. Acabou por naturalizar-se brasileiro. Aos 83 anos desfruta de uma jovialidade invejável.
Krajcberg não gosta de ser chamado artista. Na sua concepção é um ser humano fazendo alguma coisa, querendo mostrar sua revolta pela destruição promovida pelo homem. Veio para o Brasil por acaso. “Que fazer do Homem?”, se perguntava. “Ir para onde?”. Conhecia toda a Europa e nesta época se dedicava ao desenho e pintura. Aqui no Brasil fez as primeiras esculturas no Pico do Itabirito, em Minas Gerais. Junto com o poeta Carlos Drumonnd de Andrade lutou pela conservação do Pico, contra a ação devastadora da mineradora norte-americana Hanna. “Preservaram o topo do Pico do Itabirito e por baixo ele pode ser escavado”, critica Krajcberg. Aos poucos tomou gosto por um outro lado da vida, e coragem para continuar a viver.. “Nunca compreendi a guerra, a destruição “, diz Krajcberg. “Sou contra o racismo e a religião, pelas divisões que causam”. De partidos políticos nem se fala...
Na IV Bienal de São Paulo, em 1957, conquistou o prêmio de melhor pintor nacional e no Rio de Janeiro, também em 1957, o prêmio do Salão de Arte Moderna. Em Veneza, foi premiado na Bienal de 1964. Frans Krajcberg abandonou a pintura porque se intoxicou com as tintas. Árvores abandonadas foram as primeiras esculturas, em Itabirito e até hoje não abandonou os pigmentos mineiros.“Nesta época fazia peças muito românticas”, afirma Krajcberg. Foi quando então sentiu que precisava exprimir sua revolta, fazendo grandes viagens e fotografando os abusos. Andou o Brasil inteiro e se convenceu de que não existia país mais rico... A natureza lhe mostrou uma vida nova, minimizando os traumas trazidos da Europa e passou a trabalhar, fazendo esculturas com árvores queimadas em incêndios florestais. Como ambientalista fotografou as áreas devastadas e denunciou a destruição em fóruns internacionais. “Participei do Forum Global, 1990, Moscou 1992 e 1994 Kioto, cujas determinações os norte-americanos não aceitaram. Sou membro da Cruz Verde que tem Gorbachev, como presidente e Gore Vidal, como vice”, diz Krajcberg..
Com sua fala mansa Krajcberg pergunta, quem é o brasileiro. E ele mesmo responde que tudo tem a ver com a imigração, o caldeamento de raças, mas que é preciso lembrar que aqui já existia o índio. Para ele fala-se pouco desta raça e de sua cultura. “Estuda-se a importância do negro, mas esquece-se do índio. E como todo nós nasceram neste planeta e portando tem o direito de viver:”, afirma.
Para Frans Krajcberg o melhor escultor brasileiro é Franz Weissman, com quem dividiu um ateliê nas Laranjeiras, no Rio de Janeiro, em 1957. E não cessa sua luta, revoltado com a matança do ser humano. Critica o programa “Fome 0”, do Governo Federal, afirmando que a riqueza que os homens destroem serviria para dar comida a todos. “Poucos brasileiros conhecem este país. Não conhecem sua região. Um país rico, grande e muito problemático. Os planos e projetos são efetuados sem análises prévias. O ouro sai do país via contrabando. A madeira também.. Veja as riquezas que estão destruindo. Minas Gerais,Espírito Santo e Sul da Bahia tiveram uma floresta muito rica, a Mata Atlântica, que desapareceu em cinqüenta anos. Aqui mesmo, no Sul da Bahia, apenas duas madereiras capixabas acabaram com tudo.”
“Vejo o Movimento dos Sem Terra (MST) “, diz Krajcberg, “e sei que não querem terra, querem fazer política. Na verdade existe pouca terra para o homem e extensões enormes abandonadas. Nunca vi o Brasil tão violento como hoje e tão estranho politicamente. Não se deve esquecer que em trinta anos a população dobrou e não temos planejamento. Ë preciso planejar o crescimento da população. Primeiro, escola e cultura. Até hoje não ouvi o presidente Lula falar em cultura. O brasileiro precisa ter trabalho e viver com dignidade.”
Quando o escultor chegou a Nova Viçosa, em 1971, haviam três ruas e uma fábrica de compensados. Pretendia-se que fosse uma cidade diferente, uma cidade de cultura. Esta era a idéia de Zanini, celébre arquiteto carioca, que convenceu Oscar Niemeyer e Chico Buarque a adquirirem terrenos. Paradoxalmente, hoje um dos vizinhos de Krajcberg é Newton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais e dono do Sítio Alegria...
Profundamente revoltado Frans Krajcberg diz que a cultura na Bahia é só em Salvador e para turistas. Acostumado ao dialogo com Jack Lang, ex-ministro da Cultura da França, afirma que Gilberto Gil nunca cantou como está cantando e é o ministro que mais canta no mundo. Para ele há a necessidade de manter o estúdio na França, pois no Brasil não tem diálogo cultural. “Em Paris a prefeitura está erguendo o novo Espaço Krajcberg”, diz. “Aqui no Brasil o Museu Ecológico não tem apoio nem da Prefeitura, nem do Governo da Bahia. A continuar assim, somente com investimentos próprios, vou parar. Faltam cinco pavilhões para serem erguidos, em concreto, em forma de palhoça, a serem construídos, Tenho obras que recebi de presente de Bracher, Volpi e muitos outros artistas, que fazem parte de um acervo valioso. Não desejo verbas oficiais. Desejo apoio moral. Agora mesmo, Curitiba, no Paraná, criou o Espaço Krajcberg, no Espaço das Plantas e um ato foi assinado. A qualquer momento posso levar o museu para outra localidade que dê mais sustentação.. Criticam a minha postura aqui em Nova Viçosa, mas nunca ouvi falar uma escola pedir para visitar o Sítio Natura ou o Museu Ecológico. Participei de cinco filmes e nunca vi um jornalista bahiano aqui no museu. Passo pelo prefeito Manoelzinho do Madeira e ele nem me cumprimenta. E eu sei, mais do que ele, que a continuar como vai, Nova Viçosa não terá atrativos turísticos em quinze ou vinte anos.”
Olhando as árvores: “Queriam rasgar este pedaço de Mata Altlântica, fazendo uma avenida beira mar, sem sentido nenhum e eu fui obrigado a lutar contra isto. Neste pedaço de terra plantei três mil mudas nativas da Mata Atlântica. Perdi toda a minha família incinerada. Mas, eu nasci e tenho o direito de viver no mundo, neste país... É preciso saber que a continuarmos como vamos, a vida no futuro será um desastre! A minha arte decorre muito do momento em que olhando a natureza queimada, procuro vestígios dos rostos de minha mãe, meu pai e meus irmãos”.
“Frans Krajcberg faz parte desta raça de homens que são raros, automarginalizados, muito individualistas, mas também muito generosos na sua solidão. A vida foi rude para ele e as provas da última guerra o marcaram para sempre. A floresta brasileira foi ao mesmo tempo o meio, o teatro e o agente de uma verdadeira renovação humana – a redenção de Krajcberg pela arte”, afirma Pierre Restany, ao assinar o Manifesto do Alto Rio Negro, juntamente com Sepp Baendereck e Frans Krajcberg.

terça-feira, janeiro 17, 2006

 

Biografias

O vendaval de sem-vergonhice que assola a classe política e administrativa do País, com poucas exceções, de certa forma amplificado pela mídia, trouxe a baila à questão da biografia dos indivíduos envolvidos neste bafafá.
Na verdade são histórias pessoais de pretensos “Salvadores da Pátria”, gente que se perdeu no turbilhão da história.
Lembro-me bem das primeiras eleições mais ou menos livres, na época da Revolução, em que o uso da televisão foi limitado ao máximo, e fomos invadidos por uma enxurrada de fotos mal feitas e legendas, que muitas vezes diziam que o candidato tinha sido guerrilheiro no Vale do Ribeira, ou do Araguaia, pertencera a um sem número de grupos de esquerda, terroristas ou não, e quase sempre, teria sido líder estudantil.
Após o Golpe de 64 os líderes de classe foram chamados a uma Assembléia Geral da União Colegial Municipal de Lavras (UCML), no Clube, visando destituir a diretoria democraticamente eleita, através de um ato intervencionista. E quem comandaria tal ação? Um tal de Sérgio “Galocha” que apareceu do nada e finalmente sumiu nas brumas da história. Quem ela ele? De onde veio? Quais as suas pretensões? Ninguém nunca soube, nem mesmo a ala oposicionista da entidade.
Dizer que fulano de tal pertenceu a tal entidade, estudantil ou de classe, não passa muitas vezes, de um artifício para enganar os mais tolos.
Não digo aqui que sou mais santo do que meus semelhantes. Todos nós somos produtos do meio e do momento.
Certamente as milhares de biografias existentes devem ter erros gritantes, enaltecendo personalidades que passariam sem nenhum viço na História da Humanidade.
Anos atrás tomei conhecimento de um perfil jornalístico encomendado para enaltecer os méritos de um capitão da indústria paulista. Logo percebi que haviam feito um trabalho de limpeza nos episódios que vivera, dando realce a fatos de certa forma corriqueiros e jogando ao lixo aspectos importantes, como o péssimo pai de família em que se transformara e que alcançara sucesso passando por cima de um melhor tratamento de seus empregados.
O que dizer de políticos que naufragaram na maré nauseabunda do exercício ilimitado do autoritarismo, levando de roldão uma chusma de auxiliares, que a troco de vinténs aceitaram chafurdar neste meio fétido?
Não existe biografia definitiva. Nascemos e morremos todos os dias e, conseqüentemente podemos reescrever nossa história para o Bem ou para o Mal.
Acredite com reservas em quem lhe apresenta propostas mirabolantes. Lembre-se sempre que o passado passou, o futuro a Deus pertence e que vivemos o presente alegres e satisfeitos, como dizia o Padre Sérgio.
No mais, estamos preparados a escrever belas biografias de qualquer um de nós. Lembrando sempre que só nós mesmos somos capazes de saber a nossa verdadeira história de vida...

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